quarta-feira, 31 de maio de 2017

O Traficante da favela e o traficante do Senado


Bandido bom é bandido morto.  Traficante quando é alvejado pela polícia é motivo de comemoração. Se ele estiver na favela. A imagem desse bandido no imaginário brasileiro é sempre um negro, pobre, em uma área carente, segurando um fuzil. Mas droga é um negócio lucrativo e nem todo traficante está na periferia. Recentemente, um grampo da Polícia Federal flagrou uma frase emblemática do Senador Zezé Perrella: “Não faço nada de errado, só trafico drogas”.

O Senador ficou politicamente marcado pelo caso de quase meia tonelada de cocaína, encontrada no helicóptero pertencente a uma empresa de sua família. O piloto, que era funcionário de seu filho, Gustavo Perrella, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, foi preso e os Perrella absolvidos. Zezé Perrella já era Senador, com foro privilegiado e ainda exerce seu mandato, pelo PSDB. A conversa, divulgada pela PF, foi justamente com outro Senador tucano, Aécio Neves, que cobrava de Perrella mais fidelidade em suas declarações sobre a Operação Lava Jato.

O Senador reafirma que é inocente no caso do helicóptero e que foi irônico na gravação da PF. Mas não há dúvidas de que os indícios de uma ligação, ainda que indireta, com o tráfico são contundentes. No entanto, o caso não ocupou tanto destaque nos noticiários ou nos debates nas redes sociais. A polêmica declaração passou praticamente batida pela mídia ou pela ala conservadora da sociedade. Afinal, Zezé Perrella é branco, rico, empresário, senador e, no alto de sua moralidade, participou da comissão que julgou Dilma Rousseff, por supostos crimes de responsabilidade.

Na periferia, não é preciso haver tantas evidencias.  Ações violentas nas favelas brasileiras é rotina. Muitas vezes, com mortes de inocentes.  Normalmente, os números não são tão divulgados, pois os mortos são em sua ampla maioria negros e pobres. A sociedade aprova uma verdadeira chacina étnica em nome da “guerra às drogas”, e ao mesmo tempo admite que os grandes casos de apreensão de drogas continuem obscuros e mal explicados. 


No Congresso Nacional, a impunidade e indignação seletiva já estão virando uma infeliz tradição do povo brasileiro. Na favela, a violência e a arbitrariedade é uma triste  rotina. Indícios de crimes, quando emergem em ambientes tão distintos, despertam uma reação incrivelmente diversa das autoridades e da população: a uns pena de morte; a outros, absolvição.  E assim segue a hipocrisia no país da desigualdade.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Parcialidade de Moro divide República de Curitiba



Aos amigos tudo, aos inimigos, a lei. Moro se negou a absolver Dona Marisa, mesmo após a sua morte. Não aceitou o pedido expresso – e bem fundamentado -  da defesa, e declarou apenas a “extinção da punibilidade”. O mesmo juiz, tão rigoroso com seus inimigos, preferiu absolver Cláudia Cruz, esposa de Eduardo Cunha, que mantinha mais de um milhão de dólares em uma conta na Suíça. A polêmica decisão gerou desconforto até mesmo na, até agora, harmônica República de Curitiba. Moro, normalmente idolatrado, foi publicamente ironizado por um membro da Força-Tarefa da Lava Jato.

O Procurador Carlos Fernando Lima não falou mais que o óbvio: o nível cultural de Cláudia permitiria que ela soubesse que os ganhos (legais) de um deputado não comprariam uma vida tão cara. Carlos, ao afirmar que iria recorrer da decisão, ironizou Sérgio Moro, dizendo que essa absolvição era fruto de seu “coração generoso”. A frase foi incisiva. Os autos não permitiriam uma absolvição com tantos indícios que já foram tornados públicos. Somente possuindo um coração enorme para acreditar que manter conta em paraísos fiscais e gastos tão exorbitantes (Cláudia chegou a gastar 17 mil dólares – o equivalente a 55 mil reais – em uma viagem de 2 dias a Paris) não configuram lavagem de dinheiro ou evasão de divisas.

Mas Moro não é sempre tão generoso. Como no caso de Marisa, o juiz pode ser frio e impiedoso. A diferença de tratamento entre Cláudia e Marisa apenas revelou mais uma vez os critérios, nem sempre equânimes, utilizados pela primeira instância de Curitiba. Benevolente quando precisa e implacável quando quer. Vaidoso, Moro sempre se embebedou na ilusão de ser amado e sancionado por todos os brasileiros. Mas, uma crítica proveniente da própria Operação Lava jato, deixa claro que existe forte reprovação ao seu senso pessoal de justiça.

O argumento alegado para livrar a esposa de Cunha da cadeia foi a falta de provas. Não vamos esquecer isso. Em breve, Moro julgará Lula e algo me diz que seu coração pode não ser tão generoso. Temos que ficar vigilantes. Em um Estado de Direito ninguém está acima das leis. Nem mesmo um político, Membro do Ministério Público ou Juiz. Aos amigos e inimigos exigiremos o mesmo tratamento. E esperamos que as críticas acabem com a permissão branca de autoritarismo que os tempos pouco democráticos no Brasil concederam a alguns.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Não jogamos no time da Globo. Queremos democracia

As Organizações Globo têm uma longa influência em nossa história. Apoiou expressamente o golpe militar e a ditadura, enquanto lhe foi conveniente. Editou o debate de Lula e Collor em 1989, influenciando o resultado daquelas eleições. Liderou a mídia no linchamento público, que culminou com a deposição de Dilma Rousseff, entre outras intervenções pouco louváveis. Mas, agora, a Globo aderiu expressamente ao “fora Temer”, concordando parcialmente com o clamor popular. E o que ela pretende com isso é preocupante. E nada democrático.

O grupo midiático desempenha um papel central em várias frentes desse processo, que fatalmente culminará na queda de Michel Temer. Foi ele quem primeiramente tornou pública a delação da JBS, incluindo os áudios de Temer, na coluna de Lauro Jardim. Não tardou para, em editorial, exigir a renúncia do presidente, que ele próprio colocou no poder. A Globo não se inclui no grupo dos inconsequentes que tiram presidentes sem avaliar os riscos futuros. Ela sabe o que está fazendo.

Dentro deste contexto, a avaliação vai ficando cada vez mais perigosa. Até a semana passada, Globo e Temer estavam afinados nos discursos das reformas plutocratas. O presidente golpista estava cumprindo seu papel de subserviência ao establishment brasileiro. O Planalto rifava o resto de sua miserável popularidade, e a mídia tentava – em vão -  convencer a população da sua importância. A agenda do golpe estava sendo posta em prática. Mas ainda assim a emissora preferiu exigir a saída de Temer, esperando eleições indiretas. Por amor à pátria é que não foi. O cenário de escolha do presidente pelo Congresso é tão temerosa quanto a atual.

Não pretendo aqui defender a permanência do presidente traidor. Quero temer preso. Mas temos que concordar que vivemos dias estranhos no Brasil. Tudo soa como interesses escusos, com o apoio da Globo: O crime perfeito dos irmãos Batista, que bilionários e livres, administram seus negócios nos EUA; o risco de termos um presidente banqueiro e a perseguição à imprensa livre, como no caso de Reinaldo Azevedo. E lembrem-se: não existe perseguição boa ou perseguição ruim. Todas são péssimas.


Dessa forma, O “fora Temer” já não basta. Não podemos, nós dessa vez, sermos a massa de manobra da toda poderosa emissora. A pauta a ser defendida é a da “diretas já”. Porque caso deixemos a Globo seguir com seu golpe, com o apoio desse Congresso corrupto, seremos nós os enganados. Queremos a votação urgente da PEC das eleições diretas ou cassação via TSE. Caso contrário a Globo ganha novamente. E o Brasil volta a perder. Eleições diretas não é apenas o melhor caminho, mas o único a ser defendido pela militância.  

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Quem tem medo de democracia brada: (in)diretas já!

Não há dúvidas de que Temer está morto. As gravações da JBS não deixaram pedra sobre pedra no Planalto. Diante do inevitável, é necessário refletir sobre sua sucessão. Existe a possibilidade de restaurar a ordem democrática surrupiada dessas terras há um ano. No entanto, cresce um movimento “popular” que exige o “direito” de não escolher o presidente. Com medo de que as urnas não confirmem seus anseios, desejam que o congresso mais corrupto da história escolha o próximo Presidente. Um novo acordo nacional vencendo a soberania popular.

Existem ao menos duas possibilidades de defrontar a vacância iminente do cargo mais importante do País. A primeira delas é via Justiça Eleitoral. Caso a chapa Dilma/Temer seja cassada pelo TSE, as eleições serão diretas, graças à minirreforma eleitoral de 2015. Ponto para a democracia. Ironicamente, esse processo, levantado pelo PSDB, surgiu justamente para atentar contra a ordem democrática, visando derrubar Dilma, caso o impeachment não passasse no Congresso. Nesse caso, todos, contra ou a favor da democracia, iriam às urnas escolher o candidato favorito da nação.

Acontece que na outra possibilidade (renúncia ou impeachment) a Constituição – em seu atual texto – declara que o Congresso realizará eleições indiretas na forma da lei (ainda não editada). Na prática veremos um parlamento atolado até o pescoço em corrupção, ávido por escapar da cadeia, escolher o próximo comandante da nação. Amarrar cachorro com linguiça. O remédio para tal disparate já existe e está em tramitação: a PEC 227/16 altera o texto para termos eleições diretas. Mas como foi falado, parte da população se manifesta contra. Possuem mais medo da própria soberania popular do que de uma quadrilha organizada de terno e gravata.

O apoio popular é o único meio capaz de pressionar deputados e senadores para que aprovem essa PEC em tempo útil. Não se pode, por temer a vitória de determinado candidato, abrir mão do nosso direito mais essencial, daquilo que nos faz uma democracia e que ainda nos difere de uma ditadura totalitária: o voto.


Em toda essa contagem, achei por bem, não incluir aqueles que, mesmo sabendo das falcatruas desse governo estão levantando de forma espontânea a bandeira do “fica Temer”. É esse mesmo pessoal que diz por aí que “não defende bandido” e que pediu a cabeça de Dilma por pedaladas fiscais. Prefiro ignorar. Aos demais espero que compreendam a seriedade da situação, confiem no povo brasileiro e em seu candidato e revoguem esse cheque em branco que pretendem dar a parlamentares que não representam a população. 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Os tropeços imperdoáveis de Marina

Marina Silva tem uma biografia digna dos grandes líderes políticos. A acreana, filha de um seringueiro e de uma dona de casa, conheceu de perto a pobreza, trabalhou como doméstica e foi alfabetizada apenas aos 16 anos. Foi eleita Senadora, nomeada Ministra de Lula e foi candidata à Presidência. No entanto, Marina tem cometido um grave erro: fala quando deveria se calar e se cala quando deveria se pronunciar. Se omitiu sobre Mariana, mas declarou apoio público ao impeachment e às reformas de Temer. Não há história que sobreviva com um final tão melancólico.

Marina militou ao lado de Chico Mendes e foi candidata pelo PT ao seu lado em 1986. Ela sempre fez questão de adotar a causa ambiental como seu principal lema político. No entanto, quando   o rompimento da barragem em Mariana/MG causou danos irreversíveis à natureza e à população local, sendo o maior desastre ambiental da história, Marina emitiu um silêncio ensurdecedor. Só se pronunciou após sofrer muita pressão da mídia e de seus eleitores. Marina não podia militar contra a Samarco pois devia estar muito ocupada cuidando de seu partido recém-criado. Ironicamente, um partido ambientalista.

Foi atuando justamente como líder do Rede Sustentabilidade, que Marina cometeu um de seus mais decepcionantes discursos. Ela defendeu que seu partido votasse a favor da deposição de Dilma Rousseff. Grave, muito grave. Como pode Marina discursar sobre uma nova política, se aliando ao que há de pior e mais retrógrado nela? Marina foi apenas mais uma que defendeu, publicamente, o rompimento da ordem democrática e um golpe no Brasil.

Após um discurso tão contundente, era de se esperar que Marina passasse por um tempo de incubação. Desaparecesse. Marina não foi vista criticando o governo que ajudou a chegar ao poder, nem os casos de corrupção do PSDB. Marina saiu da toca, pasmem, para defender as reformas trabalhista e previdenciária de Temer. O que a Marina, ainda adolescente, trabalhadora braçal, ou, anos mais tarde, quando foi uma das fundadoras da CUT no Acre, pensaria dessas declarações? Teria Marina decepcionado a si mesma?


Marina já foi candidata a cargos públicos por ao menos três partidos: PT, PV e PSB. Hoje é Persona non grata nas três agremiações. Tentará novamente chegar ao cargo mais alto da República nas próximas eleições, dessa vez por um partido que ela mesma fundou. Seu lema é romper com o modelo atual e fazer o que ela denomina de “nova política”. Mas essa política está desgastada demais para ser original. Infelizmente, foi a própria Marina que nos mostrou isso. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Gestores para empresas. Estadistas para nações

“Gestor: que ou aquele que gerencia bens ou negócios de outrem”. Essa é a definição do verbete no dicionário Houaiss. Bons gestores recuperam empresas falidas, transformam pequenos empreendimentos em megacorporações e maximizam lucros. Gestores são líderes, organizados e bem-sucedidos. Vejam os casos de Trump, Eike e Dória, por exemplo. Mas seria um país em crise o mesmo que uma empresa em bancarrota? O que diferencia um bom gestor de um grande estadista?

Inicialmente, temos que concordar que todo Estadista deve ser necessariamente um bom gestor. As habilidades de planejamento, liderança e otimização de recursos devem estar presentes em todo Chefe de Estado. Um governo deve sempre prezar pela eficiência, ou seja, realizar o máximo para a população com o mínimo de recursos. No entanto, as habilidades pura e simplesmente de gestão, apesar de necessárias, não são suficientes para o comando de uma nação.

O gestor, acostumado em administrar grandes empresas, possui um conceito simples de investimento e resultado. Todo investimento pressupõe retorno. Resultado significa lucro. Quanto mais, melhor. Medir os resultados em números é algo prático e imediato. Torna a gestão dinâmica. Mas os investimentos em um país com abismos sociais precisam ter uma abordagem diferente. Pessoas não podem ser encaradas como números em uma planilha. E o lucro para uns, não pode vir às custas da miséria de outros tantos.

As grandes políticas públicas de distribuição de renda foram ações pensadas e executadas por um grande Estadista. A alocação de recursos em áreas tão sensíveis retirou milhões de brasileiros da linha da pobreza e garantiu uma vida mais digna à população das áreas mais carentes do país. No entanto, os resultados desse tipo de ação não podem ser mensurados imediatamente em uma planilha, para ser anunciada em redes sociais com o patrocínio da Unilever. Ações de Estado são a longo prazo. E os indicadores podem não ser tão dinâmicos.

Os famigerados outsiders, em alta na política ao redor do mundo, têm se orgulhado em dizer que são gestores, não políticos. Talvez por isso a aversão a políticas públicas. Trump fez todos os esforços para acabar com o mais próximo que os EUA já tiveram de um sistema de saúde público universal. Dória não perde a chance de criticar os avanços sociais do governo PT, de forma leviana e populista. Talvez por isso, o presidente americano esteja tão mal avaliado dentro e fora de seu país e sua versão tupiniquim sempre atrás de Lula nas pesquisas. Para governar não basta gerir, mas sobretudo conduzir a nação com eficiência e justiça social. 

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O fim da Lava Jato e a vingança de Moro

Recentemente, alguns aspetos basilares da Operação Lava Jato foram questionados por instâncias superiores da Justiça, impondo derrotas tácitas ao Juiz Sérgio Moro.Entre outros revezes,  o  instituto – autoritário – das prisões preventivas, com longos períodos de duração, está sendo frequentemente derrubado pela Suprema Corte. Sem o absolutismo da primeira instancia, e perto do seu fim, a famosa Operação aposta suas fichas em seu objetivo preambular e na vendetta de um Estado vingativo: a prisão de Lula em um espetáculo midiático.


O Princípio do Juiz Natural, consagrado em nossa Carta Magna, prevê a imparcialidade do órgão julgador. Mas parece claro, para apoiadores e críticos da Lava Jato, que a relação de Moro com Lula Já é pessoal há muito tempo. O Juiz têm trocado todos os envolvidos  por informações sobre o Ex-Presidente.  Condenados por assumidamente desviarem dezenas de milhões de reais vivem confortavelmente em condomínios de luxo. Tudo por informações relevantes. Ou seja, contra Lula. Na corrida contra o tempo para 2018 vale tudo. Inclusive declarações sem provas.


Moro ainda, de forma ressentida e pessoal, exigiu de forma ortodoxa e pouco democrática, que Lula comparecesse aos 87 depoimentos de testemunhas, como forma de constranger o   investigado e restringir o completo acesso à justiça. Felizmente, essa foi mais uma derrota de Moro frente a uma instancia superior: o TRF da 4Região derrubou a decisão e o processo, nesse aspecto, vai correr com ares de normalidade. Não é a primeira vez que o juiz age de forma parcial contra Lula: Moro já havia, de forma inconstitucional, divulgado os áudios da conversa de Lula com Dilma e até de Dona Marisa com seu filho, ainda antes do impeachment.



O encontro pessoal dos dois está sendo anunciado pela mídia como um grande espetáculo. Uma revista os pintou como lutadores de boxe. Outra, como gladiadores. Ninguém tem ilusão que não se trata de um embate pessoal. É o Estado agindo de forma vingativa. Esse será o fim da Operação Lava jato. Caso Lula seja preso por Moro, alguém acredita que será lhe oferecido o benefício da delação premiada? O PT foi o primeiro e também será o último e derradeiro alvo da República de Curitiba.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Inversão de valores e os vagabundos no país do golpe

Rodolfo Buhrer/La imagem
Os tempos estão sombrios no país do golpe. Desde quando parte da população foi às ruas de forma misógina e colérica para exigir a deposição injusta de uma mulher honesta, as discussões políticas no país estão cada vez mais assustadoras. Na esfera pública, está valendo comemorar ataque covarde de PM, chamar trabalhador de preguiçoso e celebrar retirada de colchão de morador de rua.  Só não se pode criticar as reformas de Temer. Porque aí é coisa de vagabundo.

A agressão, injustificável e criminosa, de um PM a um manifestante em Goiânia poderia ser a deixa para uma rica discussão sobre liberdades e repressão. Mas foi muito triste ver pessoas linchando virtualmente a vítima que, na UTI, nem ao menos estava apta a se defender. A “acusação” contra Mateus foi sintomática de um povo culturalmente subdesenvolvido: ele era estudante aos 33 anos. Na lógica invertida da mediocracia, ser estudante também é coisa de vagabundo.

Aliás, culpabilizar a vítima não tem sido novidade por aqui. Mulheres que sofreram violência sexual são frequentemente responsabilizadas, por estarem, supostamente, usando roupas ou cor de batom provocativos. Nada mais arcaico e primitivo. Mas este é o brasil de hoje. Aqui racismo virou opinião, homofobia questão de princípio e rebelião em presídio, show de TV. Não pode ser contra mortes no sistema prisional. Defender Direitos Humanos também é coisa de vagabundo.


O “país do futuro” está preso na pré-história do debate político e na evolução do sentimento de coletividade. Seja Esplanada, Avenida paulista ou internet a esfera pública virou um palco de linchamento coletivo e de um ódio estarrecedor. É por isso que a extrema-direita tem ganhado espaço por aqui. Está na moda ser conservador e preconceituoso. E se você se apresentar contra essa tendência, não tenha dúvidas: você também será um vagabundo.
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