segunda-feira, 9 de abril de 2018

Greve geral, resistência e o fantasma de 2013



A greve dos metalúrgicos no ABC, em 1979, foi responsável pela primeira grande vitória política de Lula e também pelo seu primeiro período na cadeia. Durante o movimento grevista, surgiu a ideia da criação do PT, fundado um ano depois, e da CUT, em 1983. Trazendo um grande valor simbólico, quase quatro décadas mais tarde, foi no sindicato dos metalúrgicos, no mesmo ABC, que Lula decidiu apresentar-se à polícia federal, após mais de 50 horas de resistência ao mandado de prisão, persecutório e ilegal, emitido por Sérgio Moro.

A decisão de Lula, erroneamente atribuída a seus correligionários e aliados, de não ter persistido por mais tempo, declarando uma ruptura com as instituições, gerou insatisfação por parte da militância que, pensando na integridade do ex-Presidente, queria a radicalização em várias frentes. O PT, visto, por essa parcela da esquerda, como excessivamente passivo ou democrático, estaria equivocado em todas as suas ações e passou a ser alvo constantes de críticas, ocasionando um surgimento de uma perigosa ala lulista e antipetista na esquerda.


Entre as soluções não adotadas institucionalmente, que variam da revolução armada ao refúgio em embaixada, se destaca um clamor por uma greve geral, até que Lula volte à liberdade. O retorno às paralizações, parece sob todos os aspectos, uma decisão acertada, democrática e constitucional. Mas antes de mais nada, é importante observar alguns aspectos desse instrumento para que um trunfo não vire uma bomba nas mãos da esquerda, como o já conhecido caso dos 20 centavos.

Uma greve geral, sabemos disso, se faz por meio de sindicatos, associações, partidos políticos e demais entidades da sociedade civil organizada. Então é trabalhando junto com as organizações, e não as atacando, que seria possível construir um debate nesse campo. Ademais, não se deve invocar, em nome das esquerdas, uma greve geral que não vá ter adesão, sob o risco de a expressão cair no total descrédito perante a mídia e a população. Há de se considerar alguns fatores recentes como repressão violenta da polícia em manifestações e o sequestro da CLT pelo trabalho intermitente como dificultadores de engajamento de trabalhadores não militantes.

O trabalho para um movimento trabalhista agora, é de base, em frente às fábricas e demais meios de produção. Não se inicia uma greve com ataques aos partidos políticos ou reclamações nas redes sociais. Mas essa insatisfação manifestada na internet, mesmo não atingindo o objetivo, pode contribuir para o descrédito das instituições e dos partidos políticos que disputarão as eleições daqui a 6 meses. Hoje, se você enfraquece os partidos de esquerda, você, automaticamente, e de forma inequívoca, está fortalecendo a direita. É uma relação biunívoca.

Não há dúvidas que ações enérgicas e urgentes devem ser tomadas em favor do ex-Presidente Lula, o maior líder político da história do país, o líder nas pesquisas eleitorais e um preso político injustiçado por um juízo parcial. Mas não dá para tentar proteger Lula duvidando sistematicamente de suas decisões e condenado seu partido a todo momento. Esse erro nós já cometemos e ainda estamos sofrendo as consequências.

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8 comentários:

  1. Parabéns pelo excelente texto e pela clareza apresentada de como lutarmos pela restituição da nossa DEMOCRACIA e sobretudo, pela liberdade do nosso estimado líder, o ex-Presidente Lula. Acho que o caminho é realmente esse, uma Greve Geral Nacional, com todos os setores da sociedade, de forma organizada e idealizada.
    Mas Guilherme, você não sente que as eleições podem também estar sendo vítima do consórcio golpista que de forma imoral e criminosa arquitetaram o impeachment da Presidenta Dilma? Será que "a intervenção militar" no Rio de Janeiro não seria claros sinais de que o "golpista-mor", esteja arquitetando uma forma de boicotar as eleições e permanecer no poder? Bem sabemos que o desfecho do golpe era a prisão e tornar o Lula inelegível, esse sempre foi o intuito, ele sempre foi o alvo. Para haver eleição, penso eu, eles precisão de um candidato forte e manter o Congresso nos moldes atuais, com políticos vendidos e comprados em um verdadeiro show de calouros, um "topa tudo por dinheiro". É notável que as eleições podem correr um sério risco. O que pensa a respeito dessas singelas colocações?

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  2. Bom dia, Gustavo!

    Acredito plenamente que que as eleições correm grande risco de nao acontecerem, caso o PT continue liderando. Concordo plenamente com voce nesse aspecto. Cheguei a publicar um texto no 247 (nao repliquei aqui por descuido ) com essa temática. Jornais em Cuba e na Bolívia chegaram a traduzir. Vou disponibilizar os links abaixo.

    acredito que nesse ponto (e em vários outros) concordamos plenamente.

    um abraço.

    https://www.brasil247.com/pt/colunistas/guilhermecoutinho/349313/Se-PT-continuar-na-frente-as-elei%C3%A7%C3%B5es-poder%C3%A3o-ser-canceladas.htm

    http://www.prensa-latina.cu/index.php?o=rn&id=164692&SEO=alertas-sobre-posible-suspension-de-elecciones-en-brasil-aumentan

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  3. É uma estratégia difícil de traçar.
    Eu sempre pensei que, se Lula seguisse subindo nas pesquisas, dariam um jeito de prendê-lo ou obstar sua candidatura. Ao mesmo tempo, o efeito manada e a teoria espiral do silêncio mostram que ter Lula à frente nas pesquisas faz com que mais pessoas o apoiem.

    Então, não tínhamos como "esconder" a candidatura de Lula para protegê-lo do ataque que sabíamos que viria. Fomos inocentes em achar que os golpistas não ultrapassariam todos os limites da hipocrisia e da legalidade nesse intento, ou que a população reconheceria esse Estado de Exceção criado apenas para punir Lula.

    A sentença de moro, o acórdão do TRF4 e os votos dos ministros Barroso e Weber mostraram que no âmbito da argumentação jurídica vale tudo para se alcançar um objetivo político.

    E o silêncio dos "cidadãos de bem" que poderíamos acreditar que estavam apoiando a direita por ingenuidade ou engano, ante às mais que nítidas diferenças nos tratamentos dados a Lula em contraste ao tratamento dado aos políticos do PSDB, por exemplo, mostram que eles não estão sendo enganados coisa nenhuma. São mal-intencionados mesmo, mal-agradecidos e mau- caracteres.

    Fomos inocentes. Um pouco levianos até, se pensarmos em como a Câmara votou o impeachmeant e como o STF permitiu que o Cunha usasse sua função para se vingar de Dilma e do PT de forma descarada.

    E agora estamos na mesma situação.

    Se parecermos fracos, perderemos eleitores. Não sei quantos, mas talvez o suficiente para perdermos a eleição.

    Mas se Lula seguir firme nas pesquisas e a direita registrar uma alta taxa de transferência de votos caso o nome dele não apareça na urna eletrônica, as eleições serão, sim, canceladas.

    Alguém acha que se deram todo esse trabalho para agora entregarem o país de bandeja em uma eleição democrática à esquerda novamente? Chega de sermos ingênuos, meu povo.

    E, não se enganem. Fora o Alckmin, ninguém tem chance de vencer essa eleição da Globo.
    Não terá eleição se constatarem que o Bolsonazi vai ganhar, se constatarem que o Ciro vai ganhar, ou se até o Joaquim Barbosa tiver chance real de ganhar. A Marina porque é uma golpista declarada talvez a Globo deixe ser eleita no lugar do Alckmin.

    Mas, do contrário, esqueçam.

    E nem achem que se cancelarem as eleições o povo vai se indignar e vai pra rua lutar pela democracia. Não vai. Lula está preso! Preso! Sem uma única prova de que pediu ou recebeu valores indevidos em troca de favorecimento ilegal à OAS. E quantas pessoas saíram às ruas para protestar?

    Somos mais de 100 milhões de Eleitores.Fomos 54 milhões de votos no PT na eleição passada. Onde estão os eleitores do Lula e do PT que não estão na rua mostrando sua indignação com a manipulação das eleições pelo Judiciário?

    Eu não sou de fazer declarações derrotistas, pois entendo que temos uma responsabilidade de cativar as pessoas para a luta e, não, de desmotivá-las, agredi-las com cobranças de como se deve militar.

    Mas, ou a gente pára para pensar uma estratégia inteligente para driblar o golpe, ou seguiremos com presidente ilegítimo no poder. seja com prorrogação do mandato do Temer como sugeriu o Noblat, seja com eleições indiretas ou com a vitória de um candidato da direita.

    Esqueçam isso de vencer eleições democráticas no voto.

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  4. Oi, Melina!

    Costumo concordar sempre com suas opiniões, mas vou me permitir descordar dessa vez.

    Esse processo eleitoral será mais parecido com 1989 do que com os últimos pleitos. São vários candidatos disputando, o que significa que 18 a 19 por cento de intenções de voto podem ser suficiente para levar um candidato para o segundo turno.

    Eu, particularmente, nao creio que a prisão, denunciada mundialmente, como pudemos ver hoje na foto de capa do Le Monde (versão mundial), vá diminuir a popularidade de Lula perante seu eleitorado. Pelo contrário, é possível que aumente.

    o PT o mantendo como candidato até o julgamento da campanha, mesmo o registro sendo negado, ele terá muita força para repassar ao menos metade de suas intenções de voto.

    sobre a prisao, eu realmente não acho que vá durar tanto. Rosa já afirmou com todas as letras que considera prisao em segunda instancia ilegal e que so votou contra o HC porque é o entendimento vigente. Logo as ADC serao pautadas e acredito que o entendimento seja mudado.

    Não apenas pelo Lula, mas existe muita gente com medo.

    Agora, se o PT estiver com grandes chances de vitória, eu acho que podem cancelar sim as eleições. Afinal não tem havido limites para os golpistas.

    Por isso temos que ficar vigilantes.

    Um abraço

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  5. Mas então acho que eu não soube me expressar.
    Eu acredito que, em uma eleição, se ocorrer, lula ou o candidato que ele apoiar ganhariam com facilidade.

    O que eu acho é que, isso ficando cada vez mais claro para os golpistas, os fará cancelar as eleições.

    Penso exatamente como vc.

    A questão da estratégia seria: como "esconder esse fato - de que a direita não ganhará de jeito nenhum- por tempo suficiente a garantir a realização de eleições?

    Será que isso seria possível?

    Como fazê-los acreditar que Alckmin ou Marina tem chance de vencer para q não suspendam as eleições.

    E outra: se ocorrer eleição e a esquerda ganhar. Será q temos garantias de que nosso eleito será nomeado?

    Nas urnas , a direita não ganha. Isso é fato. Como garantir a realização de eleições diante desse fato?
    É nisso que deveríamos estar pensando desde logo.

    Estratégia...

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    Respostas
    1. Sim, querida! entendi seu ponto agora.

      Sabe o que eu penso? que essa frente ampla de esquerda deveria se preocupar nao apenas no majoritário, mas sobretudo no proporcional.

      Vamos pensar (apenas pensar) na hipótese de vencermos e tomarmos posse. Se tivermos um congresso conservador como esse, vevaremos outro golpe. Fora que pode ser que nem tomemos posse.

      De fato essa tem que ser uma preocupação.

      Eu acredito que isso tenha passado na cabeça de Lula quando ele optou nao ir para ilegalidade.

      Marina tem chance zero.... nem vai participar dos debates porque perdeu 2 parlamentares. O candidato do golpe será - novamente - o candidato tucano.

      Um abraço

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  6. Então: como garantir que as eleições ocorram?

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