Em um dia, Sérgio Moro gravou um vídeo nas redes sociais
afirmando que a grande maioria ou a totalidade da população o apoiava. No
outro, determinou a condução coercitiva de um crítico seu da imprensa
independente, de forma abusiva e injustificada. Moro tem uma visão
megalomaníaca e equivocada de que toda a população o apoia, por isso se sente
mais poderoso que a própria toga. Quem precisa de apoio da população é
político. Juiz precisa aplicar a lei com isenção, se manifestar nos autos e não
praticar nenhum tipo de perseguição.
Sergio Moro é descendente de italianos e um entusiasta da
Operação Mãos limpas (Mani pulite), ação italiana que inspirou a Lava Jato, na
década de 1990. Moro parece ter aprendido bem o conceito italiano de famiglia:
em três anos de Lava Jato não temos nenhum tucano indiciado. Nesse mesmo
período, o juiz superpoderoso divulgou áudios, com intenção de influenciar a
opinião pública a favor da deposição de Dilma, mandou prender preventivamente,
e conduzir diversas pessoas de forma coercitiva. Ainda aquelas que não eram
rés. Mesmo quem nunca havia se negado a colaborar com a justiça.
Uma delas gerou uma comoção popular, a de Lula. Helicópteros
da imprensa já estavam posicionados. Breaking news. Assim como no antigo
Coliseu, estavam jogando um homem aos leões sob os aplausos da população. Como
sempre, Moro não obteve provas. Era melhor ter convidado Lula. Tenho por certo
que ele iria, sem espetáculo, sem coerção. Pouco mais de um ano depois, foi
esse mesmo episódio (o vazamento da condução) que fez Moro extrapolar os
limites da toga, conduzindo um profissional da imprensa livre e apreendendo
seus computadores e celulares.
A imprensa tentou fazer de Moro um intocável, como César.
Nas manifestações verde-amarelas, ele era um salvador. Vestia capa, como um
super-herói e tinha seu nome gritado pelos manifestantes como em um jogo de
futebol. Mas ao contrário do que pensa o juiz, nem todos estavam lá apoiando.
Houve resistência. Posso atestar.
Michael Corleone, icônico personagem vivido por Al Pacino,
no clássico "O Poderoso Chefão" disse em um dos filmes que "todo
o poder do mundo não pode mudar o destino". Moro parece se achar tão
poderoso a ponto de mudar o destino tupiniquim. Apesar da sua negativa, não me
surpreenderia se o víssemos candidato a algum cargo no executivo em um futuro
próximo, ou quem sabe pleitear uma vaga no STF ao investigado Temer. Assim como
no filme, já vimos que essas indicações "não são pessoais, são só
negócios", capiche?
Nenhum comentário:
Postar um comentário