O Brasil vive a pior recessão econômica de sua história.
Desemprego, caos nas na segurança pública e barbárie nos presídios são fatos
recorrentes em um país em frangalhos. Escândalos de corrupção atingiram os mais
altos cargos de um governo ilegítimo e plutocrata, que permanece impune, graças
a um poder judiciário conivente e parcial. Não há dúvidas! O povo tem muito o
que reivindicar.
No entanto, nenhum desses problemas parecem estar na pauta
do MBL para a manifestação que está organizando para o dia 26 de março. O
movimento, que se diz apartidário, mas que é financiado por partidos políticos,
conclama o povo para que tome as ruas para reivindicar a perda de seus
direitos. Há quem apoie. É o mundo invertido do país do golpe.
Entre as pautas anunciadas, chamam atenção as reformas
trabalhista e previdenciária. O povo deverá sair às ruas para apoiar medidas do
próprio governo, que lhes retira direitos básicos, privilegiando os principais
apoiadores da deposição de Dilma: os industriais representados pela FIESP. Sim,
o cidadão está sendo convocado pela turminha do Kim a reivindicar a perda de
seus direitos trabalhistas, incluindo a perda de uma aposentadoria digna. Lutar
pelo direito do patrão. They want you.
Especificamente sobre a reforma da previdência a hipocrisia
aumenta um pouco. Ao mesmo tempo que a pauta é aprovar o projeto, eles alegam
que têm uma proposta própria e diferente daquela apresentada por Temer. Mas só
se pode aprovar uma proposta que já tramita no congresso, certo? MBL, sabemos
que vocês estão fechados com o PMDB. O povo não é tão bobo assim. Ou será que
é?
No meio disso tudo, o discurso ainda encontra fôlego para
incluir temas populares entre o público conservador: fim do estatuto do
desarmamento, apoio à polícia militar e bom andamento da lava jato. Nenhuma
menção aos envolvimentos de Temer e seus ministros em caso de corrupção, nada
sobre Jucá, Padilha ou Aécio. Não se pode criticar o governo nessa
manifestação.
Levantes populares mudaram o mundo diversas vezes.
Derrubaram tiranos, instituíram a democracia, institucionalizaram direitos. Os
próprios conceitos de cidadania, de liberdade e justiça social não existiriam
se em determinados períodos históricos o povo não tivesse se mobilizado em
torno de um ideal. No entanto, o que o MBL protagonizará em alguns dias será
mais um triste espetáculo, meticuloso e mal-intencionado, de um grupo
conservador e mentiroso que atua como mídia social para Temer.
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