terça-feira, 31 de outubro de 2017

Esqueçam as panelas. Elas continuarão mudas


A esquerda precisa parar de exigir da turma do Fora Dilma as mesmas alegorias que eles fizeram durante o processo do impeachment. Já está mais do que claro que a revolta da classe média era contra o resultado das eleições de 2016 e não contra a corrupção. Ademais foi o peculiar canto de suas le creusets que promoveram o Sr. Mesóclise de vice decorativo a presidente inimputável. Não dá para reclamar muito de um subproduto das próprias reivindicações. As panelas não vão soar novamente, não importa o quanto isso seja cobrado.

O sentimento de frustração por ter perdido as eleições e o ódio ao PT uniram a direita brasileira em torno do objetivo comum de derrubar Dilma Rousseff. Pequenas divisões internas e diferenças ideológicas não atrapalharam a unidade de um movimento que tomou corpo e se mostrou coeso na maioria do tempo. No entanto esse movimento não se voltará contra Temer. A maioria daqueles que se rebelaram contra Dilma, aprovam as reformas plutocratas do atual governo e consideram Temer um mal necessário. Os reincidentes casos de corrupção parecem não afetar esse julgamento.

 A Revista Piauí, que teve acesso a um grupo de whatsapp do MBL durante 2 meses, esclareceu a relação utilitarista do movimento com Temer: “E é o seguinte: vamos tentar botar pra frente essa previdência. Ainda da tempo. O zumbizão ta lá pra isso kkk”, disparou Renan Santos, um dos líderes do grupo. O Movimento Vem Pra Rua divulgou um texto explicando porque ainda se manifestou como nos tempos de Dilma: “Até o momento, o Vem Pra Rua entende que não há o que justifique uma campanha contra a continuidade do governo Temer. O balanço do que foi feito até agora é positivo. Poderia ter sido melhor? Com certeza, mas ainda é positivo” disseram no artigo “Afinal, oVem Pra Rua é a favor ou contra o Temer ?” disponível no site do grupo. Apesar de não assumir, grupos que se manifestaram a favor do impeachment, de uma forma geral, estão satisfeitos com o peemedebista no Planalto.

Talvez por isso, esses grupos tenham dado tanta importância a assuntos que não se relacionam diretamente com política. De repente, pautas como exposições em museus e cenas em novelas passaram a ocupar mais espaço em suas reivindicações do que milhões de reais em apartamentos ou gravações envolvendo senadores e o próprio Presidente da República. A corrupção deixou de ser a pauta central, e a difusão do conservadorismo lança uma nuvem de fumaça sobre o governo mais corrupto da história.

Nem mesmo a compra de votos a luz do dia e as duas absolvições de Temer levaram um número considerável de pessoas às ruas. PEC do teto? Fim da CLT? Leilão do Pré-Sal? Nada disso provocou uma reação popular como deveria.  Temer parece caminhar com tranquilidade para o fim de seu mandato golpista e lesa-pátria. A esquerda não precisa mais esperar o arrependimento dos paneleiros: precisa arregaçar as mangas e lutar, conforme sua história e vocação. O que não pode faltar é o povo nas ruas.

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