quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A volta da extrema-direita nos ensina como o nazismo foi possível



 No início dos anos 1920, o Partido Nazista alemão era fundado em uma Alemanha arrasada pela Primeira Guerra Mundial, sob os olhares silenciosos das maiores potências europeias. Em 1933, o partido chegou ao poder com um discurso xenofóbico, nacionalista, nativista, antissemita e anticomunista. De chanceler, Hitler passou a ditador e o final da história nós já conhecemos: o holocausto e mais de 50 milhões de mortos, no conflito mais sangrento da humanidade. A ideia de como um partido com ideais tão desumanos pudesse ter emergido em uma sociedade organizada sempre soou absurdo para as gerações mais recentes. No entanto, a perigosa volta da extrema-direita aproxima nossa realidade com o período entreguerras europeu. 

Como bem disse Bertolt Brecht, a cadela do fascismo está sempre no cio. Basta que se crie uma situação favorável e as velhas ideias reacionárias reaparecem em um piscar de olhos. Não há dúvidas de que um novo ciclo fascista se iniciou no velho continente há cerca de quatro anos e desde então vem se fortalecendo e se alastrando para outras potências, como os Estados Unidos. Até a Alemanha que, desde a derrota de Hitler na Segunda Guerra, não havia mais tido representação fascista oficial, viu recentemente o partido de extrema-direita AfD conseguir 90 cadeiras em seu parlamento.


Mas a situação na Alemanha está longe de ser um caso isolado. Na Hungria, o maior partido de oposição, Jobbik, se intitula “direita radical”, Marine Le Pen disputou o segundo turno das eleições francesas e o Partido Liberal da Áustria (FPÖ), que possui uma corrente pangermânica, disputou o segundo turno das eleições austríacas, em 2016. Por fim, temos que destacar as vitórias do leave no Brexit, do novo primeiro ministro tcheco Andrej Babiš e de Donald Trump nos Estados unidos. O que todos esses movimentos têm em comum? O discurso xenofóbico, nacionalista, nativista, anticomunista e anti-islamita (parece ser esse o “novo antissemitismo”).  Qualquer semelhança com o primeiro parágrafo desse texto não é mera coincidência.

É necessário entender o momento histórico que tem favorecido a cadela no cio a se reproduzir em pleno 2017. Carlos Poggio, PHD em Relações Internacionais, apontou em recente entrevista à revista Nexo, 3 principais causas: o aumento do desemprego nos países desenvolvidos, o fluxo migratório aliado a uma baixa taxa de natalidade, e por fim, a utilização, cada vez mais frequente, das redes sociais com fins políticos.

Ao contrário do que se possa imaginar, não foi um suposto fracasso das esquerdas que deixou o caminho livre para o fascismo. As crises do sistema capitalista (2008 nos EUA e 2011 na Europa) contribuíram para o aumento do desemprego. Além disso, a própria ONU já denunciou como o ‘rentismo empresarial’ tem causado um poder de mercado assimétrico, com menos vagas de emprego e desigualdade de renda . Já vimos também como o uso de big data nas redes sociais ajudaram a empresa de um bilionário a impulsionar duas vitórias mais importantes da extrema-direita nos últimos anos: a eleição de Donald Trump  e a campanha do leave  no Brexit. Infelizmente, o discurso xenófobo tende a se fortalecer agora, como se fortaleceu nas primeiras décadas do século passado.  

A direita xenófoba europeia e norte americana já colocou como principal meta de campanha a restrição ou proibição da entrada de islamitas, mexicanos ou estrangeiros em geral em seus territórios. Nos resta saber quais seriam os próximos passos. Expulsar os estrangeiros? Retirar-lhes direitos? Hitler também teve que trilhar um caminho antes de chegar aos campos de concentração. O surgimento do nazismo já não nos parece algo tão fora da realidade. Até no Brasil já temos a extrema-direita representada no pseudo-fascistóide do Jair Bolsonaro. Como disse Karl Marx, a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.

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