Pais e mães que precisam de
creches públicas para seus filhos não têm tido vida fácil no DF. As vagas para
crianças de até 3 anos de idade estão longe de atender a população que não tem
condições de custear instituições privadas. Ademais, os critérios para
conseguir vagas são confusos, nem sempre privilegiando quem mora ou trabalha
perto das escolas. O resultado é muita criança sem atendimento por parte do
Estado e muitos pais revoltados – com razão – com uma situação insustentável. O
governo do DF precisa agir.
Segundo dados da Secretaria de
Educação de DF, o déficit de vagas para crianças de 0 a 3 anos é de
aproximadamente 16 mil vagas. Fica clara a insuficiência no número de instituições
para atender alunos em faixa etária tão delicada. Além disto, os critérios de
admissibilidade, que não levam como prioridade o local de residência ou
trabalho da mãe, se mostram muitas vezes subjetivos, levantando muitas dúvidas
por parte da população. O resultado são filas colossais e confusas que podem nunca
chegar ao fim, na maioria dos casos.
Michelle Barreto, moradora do
Guará e que trabalha em período integral, não tem com quem deixar Maria Júlia,
sua filha de 1 ano, durante o horário comercial. Desde o início de 2017 que ela
está na fila para a única instituição próxima à sua residência, a creche Lobo
Guará. No entanto, ao longo desses dois anos, a posição da menor, ao invés de
evoluir na fila, teve uma involução, ou seja – as chances de obter uma vaga só diminuíram
com o tempo.
Apenas no ano passado, a posição de
Maria Júlia regrediu 63 colocações. Iniciou o ano na posição 19, caiu para 51 e
terminou o ano no número 82. A situação é calamitosa, pois a creche atende
apenas 16 crianças por vez. “É triste porque infelizmente não temos como
recorrer a instituições pagas. O valor das mensalidades muitas vezes se
aproxima de meu contracheque”, disse Michelle ao Nitroglicerina Política. “Não
sabemos mais a quem recorrer”, concluiu indignada.
A reclamação de Michelle faz
sentido. Seu caso se enquadra nas duas principais prioridades de obtenção de
vagas em creches divulgadas pelo próprio GDF (mãe trabalhadora, baixa renda,
medida protetiva e risco nutricional). Não seria razoável uma queda tão brusca
na fila, caso os critérios estivessem sendo seguidos à risca e com transparência
para toda população.
Segundo relatos de moradores nas
imediações da creche, não é raro ver famílias aparentemente abastadas, buscando
seus filhos em bons carros (inclusive alguns importados) ao final do horário
letivo. “Fica até complicado falar, porque esses critérios não são esclarecidos
muito bem. Mas a impressão que passa é a de que tem gente que não precisa,
utilizando vagas da população carente. As regras precisam ser revistas”.
A universalização do ensino para
crianças de até 3 anos é uma obrigação constitucional a ser respeitada. O
descaso no cumprimento da obrigação e de um esclarecimento claro e transparente
sobre a utilização das vagas, precisa ser urgentemente revisto. Afinal, uma
sociedade que não cuida de suas crianças, é uma sociedade fadada ao fracasso.
Outro lado:
A Secretaria de Educação do DF informou em nota que a pasta
conseguiu aumentar o quantitativo de vagas em creche em percentual maior que o
descrito na meta do Plano Distrital de Educação (PDE). Informou, ainda, que
conseguiu diminuir o déficit de vagas de 21 mil, no ano passado, para 16 mil em
2018.
Segundo a nota, 28 creches/Centros de Educação Infantil/
Jardins de infância foram criados entre 2015 e 2017. Existe previsão de entrega
de mais 11 instituições para 2018.
Excelente matéria, Guilherme. Infelizmente muitas mães e pais de família passam pelo mesmo problema. Todas as crianças devem ter o direito em usufruir da creche enquanto seus pais estão trabalhando. Lutar por essa causa Vale a pena. Obrigada pelo apoio.
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