A proximidade da conclusão em
segunda instância do julgamento de Lula tensionou ainda mais o já conturbado
cenário político brasileiro. A direita sentiu o cheiro de sangue e começou a
comemorar uma eventual prisão injusta que atenderia a seus interesses. O MBL,
que andava sumido, voltou a mobilizar a massa verde-amarela, e um outro
grupelho correlato conseguiu uma agenda com a presidente da Suprema Corte. Os
setores da esquerda, ávidos por encontrar soluções, bateram cabeça, brigaram,
se acusaram e criaram teorias de conspiração. No entanto, Lula, alvo da ação
persecutória, permanecia sereno. Estrategista, Lula não estava resignado, como quiseram
alguns. Estava seguro, jogando e dobrando a aposta.
Lula era mesmo uma ilha de tranquilidade em meio a um caos
de ansiedade. O ex-Presidente declarou que não era mais um adolescente para
acreditar em luta armada e garantiu que estava pronto para ser preso. Contrariando, momentaneamente, parte da
militância, ele afirmou acreditar na Justiça brasileira – a despeito de toda
perseguição que sofrera – e que não convocaria o povo às ruas. Fez questão,
sobretudo, de afirmar e reafirmar que jamais fugiria do país. As suas declarações
foram comemoradas na direita e geraram revolta na esquerda. Erraram todos. As
duas – surpreendentes – vitórias de Lula na última quinta-feira no STF provaram
isso.
Movimentos geniais
são impossíveis de serem previstos, difíceis de serem entendidos e raramente
falham. Lula optou por permanecer na legalidade e lutar dentro das
instituições, mesmo após ter sofrido tantas derrotas em instâncias inferiores
da justiça. Ele, mais que livre, quer ser Presidente novamente e na ilegalidade,
sabia que se colocaria, definitivamente, fora do pleito. Uma vez nas urnas,
Lula vencerá e esse é talvez o único caminho para se acabar com o golpe. A
incômoda tranquilidade de Lula tinha mais um motivo: ele sabia que, mesmo no
território do inimigo, poderia vencer.
Lula é um animal político. Conhece bem as regras e sabe
jogar como ninguém. Sua popularidade fora do comum e sua história maiúscula lhe
confere trânsito e respeito em todos os setores, mesmos nos mais sórdidos, da
política nacional e internacional. Questionar sua estratégia e a de seu partido
foi um erro de setores progressistas movidos por ansiedade – e me incluo nesse
rol, quando sugeri a indicação imediata de um vice – ou por má fé. Que saibamos
diferenciar uns dos outros. E que a justiça seja feita na próxima batalha, no
dia 4.
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