De todas as
representações empresariais, partidárias e midiáticas que protagonizam
influência política no Brasil pós-golpe, nenhuma é tão maléfica e
potencialmente perigosa para a nação como o Movimento Brasil Livre. A
organização, criada em 2014, atuou de forma incisiva na deposição de Dilma Rousseff,
atacou os movimentos negro, feminista e LGBT e censurou exposições artísticas. Mas, com milhões de seguidores nas redes
sociais, financiadores ocultos e interesses escusos, o movimento político pode
causar um estrago ainda pior se não for combatido. O MBL é o fio condutor do ódio
da classe média, das políticas plutocratas e do fascismo no país.
O movimento,
que se define como liberal, atua, na verdade, como a principal voz do
conservadorismo brasileiro. Apoia os parlamentares evangélicos, ruralistas e
empresariais, trava uma verdadeira cruzada contra o movimento LGBT e, apesar de
se dizer apartidário, recebe recursos de partidos de direita e promove o ódio
contra os partidos de esquerda, sobretudo o PT. O conservadorismo do MBL –
assim como seu poder influência na opinião pública - chegou ao ápice ao
promover a censura da exposição "Queermuseu:
Cartografias da Diferença na Arte Brasileira" , que nos fez relembrar os
tempos de autoritarismo fascista da ditadura militar.
O fascismo
do grupo, aliás, não é nenhuma novidade. Um de seus membros na política
tradicional, o vereador pela cidade de São Paulo Fernando Holiday, já se utilizava
de discursos temerosos, muito antes do fechamento da exposição do Santander
Cultural. Mesmo sendo negro, atacou o movimento racial, dizendo com todas as
palavras que o negro no Brasil se “vitimizava” frente a uma realidade que não
seria, de nenhuma forma, racista. Holiday, como um capitão do mato, colocou
como mote de sua campanha o ataque ao negro, prometendo lutar contra as cotas,
o dia da consciência negra e outas vitórias conquistadas com muito sangue e
luta por cidadãos negros. Ano que vem é eleição e o movimento promete eleger
mais Holidays com discursos semelhantes. O risco é enorme.
A turma de
Kim Kataguiri parece estar envolvida em tudo de pior que aconteceu na política
nos últimos anos: a deposição injusta de Dilma Rousseff, a reforma trabalhista –
que retirou direito dos trabalhadores, o movimento escola sem partido e as
privatizações de Temer. O movimento ainda apoia a política internacional
bizarra do presidente estadunidense Donald Trump e se derrete com as ações
atrapalhadas do prefeito paulistano. João Dória, aliás, é o menino dos olhos do
MBL: o grupo já deixou claro que não medirá esforços para vê-lo no Planalto a
partir das próximas eleições.
Nem mesmo
as mídias tradicionais, como jornais e televisões, parecem possuir tanta influência
sobre os jovens conservadores direitistas como o MBL em suas redes sociais.
Para tornar tudo um tanto mais trágico, não há político ou mesmo partido que
tenha defendido tantas pautas ruins ao longo dos últimos anos como o Movimento
Brasil livre. E é dessa forma que o ovo do fascismo vem sendo chocado no Brasil:
no seio da classe média, sob um disfarce apartidário e com muito ódio para se
propagar.
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