A justiça brasileira é uma das mais lentas e ineficientes do
mundo. A mais recente versão do anuário estatístico Justiça em Números, publicado pelo CNJ, apontou que o País possui 80 milhões de
processos sem julgamento. Ainda segundo o órgão, cerca de um terço das pessoas
presas estão aguardando julgamento, e não raramente vemos casos de
trabalhadores que faleceram sem conseguir seus direitos, que se arrastam por
décadas nos tribunais. No entanto, para o julgamento de Lula, líder de todas as
pesquisas presidenciais, a justiça bate recorde de celeridade e marca a
sentença para janeiro. A justiça continua lenta. A guerra jurídica é que anda
rápida.
Lawfare, ou guerra jurídica, é o uso da lei como arma de guerra,
visando atingir um inimigo político. O caso específico de Lula se encaixa
perfeitamente no conceito, que em momento algum se confunde com o de justiça.
Lula foi condenado por Sérgio Moro por corrupção e lavagem de dinheiro a 9 anos
e meio de prisão, em uma sentença polêmica, aplicada ainda que não houvesse
provas contra o líder petista. No entanto, mesmo condenado pelo juiz
curitibano, Lula continuou liderando as pesquisas de intenção de voto,
ameaçando os adversários e deixando clara a possibilidade de a esquerda ganhar
a quinta eleição consecutiva no Brasil. O establishment tupiniquin precisava reagir.
De acordo com a Lei da Ficha Limpa, para tornar Lula
inelegível era necessária uma condenação em segunda instância. A lentidão
peculiar da justiça brasileira seria um gargalo óbvio para o objetivo final de
todo esse processo, que é retirar Lula do pleito do ano que vem. Foi então que
o TRF4 conseguiu causar surpresa e espanto a todos ao anunciar o julgamento
após apenas 196 dias da condenação de Moro. Um recorde mesmo para a operação
Lava-Jato. O processo já havia sido o que mais rápido subira de instância,
demorando apenas 42 dias entre Curitiba e o início dos trabalhos em Porto
Alegre.
Para parar Lula, uma justiça lenta, que impede cidadãos de
usufruírem direitos, que mantém presos sem julgamento e que permite a pessoas
culpadas permanecerem em liberdade até a prescrição de seus crimes, tramitou
processos com uma velocidade típica dos tribunais de exceção. Não é o caso do
tríplex (origem do processo) que está sendo julgado, mas o Lula como figura
política e líder carismático. Da condução coercitiva ao recente bloqueio de sua
aposentadoria, o que tem existido contra Lula é perseguição política,
partidária e midiática. Querem dar sangue aos inimigos e estão agindo como
justiceiros.
O TRF4 sabe que não estará julgando uma mera causa penal.
Eles estarão, sobretudo, decidindo o novo presidente do País, e muitos
interesses vão estar em jogo no dia 24 de janeiro. Resta saber se os
desembargadores vão dar sequência à guerra jurídica, agindo como justiceiros ou
se farão a autêntica justiça, tão escassa por essas terras. Em todos os casos
já está claro que este não é um tribunal comum para Lula, que após a data
saberá se será um condenado ou o futuro presidente do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário