O justiçamento é um mal que foi
se apropriando da justiça até a aniquilar e a substituir completamente no
sistema jurídico brasileiro. Entre outras ações persecutórias, as conduções
coercitivas injustificadas se tornaram espetáculos públicos recorrentes e um notório
instrumento de vingança, em verdadeiros tribunais de exceção. Nessa semana,
pudemos notar duas notícias antagônicas sobre o tratamento deferido a determinadas
“autoridades” no país sem justiça: enquanto a UFMG foi invadida pela Polícia
Federal, por homens mascarados e truculentos, agentes da polícia do Rio de
Janeiro tiravam selfies com o assassino mais procurado do país. Apesar do
tratamento diferenciado, tivemos um ponto em comum: o espetáculo.
O caso da UFMG já seria um
absurdo, mesmo se não considerarmos o histórico recente em Universidades, que é
no mínimo assustador. A “Operação Equilibrista”, que investiga desvios no
projeto da construção do Memorial de Anistia Política do Brasil, cumpriu 8 mandatos
de condução coercitiva na Universidade mineira na última quarta-feira.
Importante destacar que nenhum dos investigados (entre eles o reitor da UFMG)
se negou a prestar os depoimentos de forma espontânea, o que já não justificaria
a ação espetaculosa do juízo que emitiu os mandatos e da própria polícia. Os
ex-Reitores da instituição emitiram nota alegando que a motivação da operação
foi política e a condução das ações, abusiva.
Situação similar aconteceu com o
ex-Reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, que após uma condução coercitiva foi
preso, algemado nas mãos e pés, revistado nu e colocado em uma cela por dois
dias. A Operação foi um espetáculo: para prender o homem de 59 anos, que não possuía
qualquer antecedente criminal, foram mobilizados 115 policiais. Hoje se sabe
que o inquérito foi aberto por um sabido desafeto de Cancellier e que os
números divulgados na imprensa eram completamente equivocados. Cancellier se
suicidou após esse processo por não aguentar a humilhação.
Condução coercitiva como
vingança, espetáculo e justiçamento não era novidade, mesmo antes desse trágico
acontecimento. Quem não se lembra da condução de Lula (que não havia se negado
a colaborar), transmitido ao vivo pela Rede Globo e ordenado por um juiz que é
sabidamente desafeto do líder petista? A exceção virou regra por aqui.
Mas se reitores, professores e ex-Presidentes
são tratados como bandidos, mesmo sem provas ou condenação, baseado, muitas vezes
em questões políticas, os assassinos e traficantes costumam ter um tratamento
diferenciado. O assassino Rogério 157, responsável por dezenas de mortes na
favela da Rocinha, foi solicitado por policiais para aparecer em selfies,
sorridente e com semblante tranquilo. Acho que o espetáculo nesse caso é exibir
o troféu. Nem cabe mais reiterar a impunidade consagrada a políticos corruptos
e até envolvidos em tráficos de droga, desde que não sejam de esquerda. Mas,
aqui não vale mais a justiça, que esmoreceu há tempos. No Brasil pós-golpe só
há justiçamento.
Vc trocou o nome do traficante preso. O nome desse chefe do tráfico é "Rogério 157".
ResponderExcluirNão sabia de toda essa humilhação por qual passou o reitor da UFSC. E vc sabe quem foi o maquiavélico inimigo - ação de desafeto é pouco - do reitor que teve o poder de fazer um representante do Judiciário autorizar tamanhas VIOLÊNCIA E ILEGALIDADE policial contra o reitor??
tem razão, já corrigi o nome do bandido. Obrigado.
ResponderExcluirO desafeto do Reitor que abriu a denúncia foi o o corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado.