segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O que o MBL e os terraplanistas têm em comum?

Os terraplanistas, aquele grupo bizarro que acredita que a Terra é plana, e o MBL, aquele grupo que defende a reforma trabalhista sem nunca ter trabalhado, têm muitas coisas em comum. Ambos propagam ideias medievais, desafiam a lógica e, por incrível que pareça, possuem um crescente número de seguidores nas redes sociais. Mas existe uma outra semelhança peculiar: os dois movimentos costumam usar o termo “globalista” para, por motivos diferentes, denominar seus contraditores. Enquanto que para os terraplanistas o termo remete ao grupo que “insiste em acreditar” que a Terra possui formato esférico, para a turma de Kim Kataguiri, globalista se refere à agenda da Rede Globo –para eles, uma emissora comunista. Difícil eleger quem está mais fora de órbita.

Apontar as Organizações Globo como um símbolo de esquerda é um sintoma do delírio conservador do MBL. A bem da verdade, o conglomerado dos irmãos Marinho é a perfeita antítese do comunismo e da esquerda: uma megacorporação capitalista, que construiu seu império graças à ajuda dos militares, cuja ditadura apoiou desde a primeira hora, e que representa, em tempo integral, os maiores detentores de capital do país –seus anunciantes, por sinal. Ao tentar criar esse tipo de factoide, o MBL desinforma os milhões de seguidores, atraindo-os para um campo ainda mais conservador, com um discurso sem o menor compromisso com a realidade. Como se não bastassem as fake news que dissemina nas redes sociais…




Essa narrativa nonsense e aparentemente pontual começou quando o grupelho comemorou o fim do Esquenta, dominical apresentado por Regina Casé, para eles um programa de “extrema-esquerda”, no final do ano passado. Tamanha sandice passaria despercebida, mas a alcunha de esquerdista da “agenda globalista” da emissora virou assunto frequente a partir daí. A Globo foi tachada de comunista por não se alinhar ao grupo em temas como a absurda censura da exposição QueerMuseu no Santander Cultural, em Porto Alegre, e o estatuto do desarmamento. Os ataques se intensificaram quando os emebeelistas temeram a pré-candidatura de Luciano Huck, que parecia ameaçar os planos de seus candidatos favoritos, João Doria entre eles.

Mas MBL e Globo nem sempre ficaram de lados opostos. Como se pode imaginar, duas instituições conservadoras, de direita e protagonistas no processo injusto de destituição de Dilma Rousseff militaram juntos em temas como a “reforma” trabalhista e a PEC do teto dos gastos. Nesses casos, a emissora deixou de ser “comunista” na hora; afinal, na maioria das vezes, criticar a postura da Globo é fazer uma crítica indireta à própria ideologia política, atirar no próprio pé. Em 2017 o MBL mentiu, manipulou, censurou e difundiu o ultraconservadorismo cada vez mais presente na nossa sociedade. A Globo também não foi por um caminho muito diferente: seguiu sua vocação direitista e conservadora ao apoiar pautas elitistas e plutocratas, além de encobertar corruptos aliados, sobretudo os tucanos.

A Globo da foice e do martelo só existe nos devaneios febris do MBL, tão distante da realidade quanto o geocentrismo. Mas, na disputa sobre quem é mais aloprado, pelo menos nos terraplanistas o delírio não é movido a canalhice.


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