A primeira intervenção federal da jovem história de nossa República não ocorreu por acaso em ano eleitoral. Michel Temer, se sentindo acuado pela tensão revolucionária vinda diretamente dos morros, resolveu agir por antecipação a uma possível comoção social. Ao mesmo tempo, extremamente impopular, ele tenta capitalizar votos, visando uma possível candidatura em 2018, usando duas táticas muito conhecidas em governos fascistas: a militarização do Estado e a eleição de um inimigo comum: neste caso, os criminosos (exclusivamente) advindos das favelas cariocas.
Basta observar a visibilidade que Bolsonaro ganhou nos últimos anos, apenas repetindo esse mesmo discurso, para ver que ele costuma funcionar, ao menos com uma parcela da população. Aliás, o próprio Bolsonaro já reivindicou a exclusividade do discurso fascista para a campanha de 2018. “Temer já roubou muita coisa aqui, mas o meu discurso ele não vai roubar” disse em uma de suas redes sociais, se referindo à intervenção federal. Em uma disputa eleitoral, onde há briga pela autoria de discurso fascista, os Direitos Humanos ficam mesmo em segundo plano. Infelizmente essa é a realidade do país atualmente.
Soldados não são treinados para realizar prisões ou solucionar conflitos. Soldados são treinados para defender fronteiras e para matar. E ao deslocar essa força para atividades diversas de suas precípuas, as consequências são inimagináveis. A vigilância atenta dos Direitos Humanos, tanto em nível nacional, como dos organismos internacionais, seria essencial para diminuir o máximo possível o derramamento de sangue inocente, invariavelmente negro e pobre. Mas entre salvaguardar os agentes dessa intervenção, dando-lhes maior liberdade de ação ou fortalecer o controle de uma ação tão perigosa, Temer parece já ter feito a sua escolha: aquela que mais lhe favorece.
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