
O conceito de Demagogia, aliás, é
o que temos visto aplicado nos regimes “democráticos”, de uma forma geral. Na
Demagogia de Aristóteles, a representação popular é uma falácia para enganar as
massas, enquanto o objetivo é exclusivamente a obtenção do poder político. Ocorre
que, em uma sociedade predominantemente capitalista, onde a concentração de
renda é a regra, o poder político não se diferencia claramente do poder econômico.
Os interesses públicos são mitigados em detrimento dos interesses particulares
e a participação popular perde completamente o sentido.
No Brasil, apesar da reforma
política e das incertezas a respeito das próximas eleições, temos exemplos
recentes muito claros. Nas últimas eleições o grupo J&F foi o maior doador
das três maiores campanhas presidenciais e ajudou a eleger 162 deputados, de
diferentes partidos e ideologias. A AMBEV, empresa que tem entre seus produtos
mais rentáveis diversas marcas de cerveja, elegeu 76 deputados, de 19 partidos.
Independente de crises financeiras de qualquer espécie, os bancos continuam
batendo recorde de lucro a cada trimestre e a taxa de juros está sempre entre
as mais altas do mundo. O mercado de especulação e compra de poder político,
ocorre também em países desenvolvidos, como Estados Unidos e as maiores
potências europeias, como bem explica o economista Ladislau Dowbor, em seu
livro “A Era do Capital Improdutivo”.
Dessa forma, o Capital sequestra
a democracia e o que temos é apenas uma manutenção demagoga e sistemática dos
detentores de renda no poder. E se os interesses financeiros eventualmente perderem
nas urnas, a Demagogia capitalista já
possui sua medida de segurança: na América do Sul, que foi um reduto esquerdista
nas últimas décadas, houve 13 deposições de presidentes, nos últimos 25 anos. Entre os casos mais emblemáticos, o de
Fernando Lugo, no Paraguai, e de Dilma Rousseff, no Brasil.
Percebendo as ferramentas de
manutenção da burguesia no poder, há um século, Lênin enxergou na revolução a
única forma de colocar o povo no centro das decisões. “Democracia é o fuzil no
ombro do operário”, teria dito pouco antes da Revolução de 1917. O mesmo ocorreu
na Revolução Cubana, em 1953, onde o proletário foi à luta instituir o
socialismo. Apenas com a revolução foi possível desapropriar os meios de
produção e, de certa forma, colocar o povo (demos) no poder (Kratos). Essa é a
visão revolucionária de democracia.
Se uma revolução não pressupõe, necessariamente,
uma guerra civil, exige, sim, uma ruptura coletiva radical de percepção do
conceito democrático. O juízo de que apenas o voto é necessário para mudar o
status quo é completamente equivocada e, de certa forma, ingênua. Para retomar
o poder usurpado do povo pelo Capital, somente com mobilização e muita consciência
política. Pois como disse Sócrates, filósofo e amigo de Aristóteles, “A
sabedoria começa na reflexão”.
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