sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Inversão de valores e os vagabundos no país do golpe

Rodolfo Buhrer/La imagem
Os tempos estão sombrios no país do golpe. Desde quando parte da população foi às ruas de forma misógina e colérica para exigir a deposição injusta de uma mulher honesta, as discussões políticas no país estão cada vez mais assustadoras. Na esfera pública, está valendo comemorar ataque covarde de PM, chamar trabalhador de preguiçoso e celebrar retirada de colchão de morador de rua.  Só não se pode criticar as reformas de Temer. Porque aí é coisa de vagabundo.

A agressão, injustificável e criminosa, de um PM a um manifestante em Goiânia poderia ser a deixa para uma rica discussão sobre liberdades e repressão. Mas foi muito triste ver pessoas linchando virtualmente a vítima que, na UTI, nem ao menos estava apta a se defender. A “acusação” contra Mateus foi sintomática de um povo culturalmente subdesenvolvido: ele era estudante aos 33 anos. Na lógica invertida da mediocracia, ser estudante também é coisa de vagabundo.

Aliás, culpabilizar a vítima não tem sido novidade por aqui. Mulheres que sofreram violência sexual são frequentemente responsabilizadas, por estarem, supostamente, usando roupas ou cor de batom provocativos. Nada mais arcaico e primitivo. Mas este é o brasil de hoje. Aqui racismo virou opinião, homofobia questão de princípio e rebelião em presídio, show de TV. Não pode ser contra mortes no sistema prisional. Defender Direitos Humanos também é coisa de vagabundo.


O “país do futuro” está preso na pré-história do debate político e na evolução do sentimento de coletividade. Seja Esplanada, Avenida paulista ou internet a esfera pública virou um palco de linchamento coletivo e de um ódio estarrecedor. É por isso que a extrema-direita tem ganhado espaço por aqui. Está na moda ser conservador e preconceituoso. E se você se apresentar contra essa tendência, não tenha dúvidas: você também será um vagabundo.

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