Rodolfo Buhrer/La imagem |
Os tempos estão sombrios no país do golpe. Desde quando
parte da população foi às ruas de forma misógina e colérica para exigir a
deposição injusta de uma mulher honesta, as discussões políticas no país estão
cada vez mais assustadoras. Na esfera pública, está valendo comemorar ataque
covarde de PM, chamar trabalhador de preguiçoso e celebrar retirada de colchão
de morador de rua. Só não se pode
criticar as reformas de Temer. Porque aí é coisa de vagabundo.
A agressão, injustificável e criminosa, de um PM a um
manifestante em Goiânia poderia ser a deixa para uma rica discussão sobre
liberdades e repressão. Mas foi muito triste ver pessoas linchando virtualmente
a vítima que, na UTI, nem ao menos estava apta a se defender. A “acusação”
contra Mateus foi sintomática de um povo culturalmente subdesenvolvido: ele era
estudante aos 33 anos. Na lógica invertida da mediocracia, ser estudante também
é coisa de vagabundo.
Aliás, culpabilizar a vítima não tem sido novidade por aqui.
Mulheres que sofreram violência sexual são frequentemente responsabilizadas,
por estarem, supostamente, usando roupas ou cor de batom provocativos. Nada
mais arcaico e primitivo. Mas este é o brasil de hoje. Aqui racismo virou
opinião, homofobia questão de princípio e rebelião em presídio, show de TV. Não
pode ser contra mortes no sistema prisional. Defender Direitos Humanos também é
coisa de vagabundo.
O “país do futuro” está preso na pré-história do debate
político e na evolução do sentimento de coletividade. Seja Esplanada, Avenida
paulista ou internet a esfera pública virou um palco de linchamento coletivo e
de um ódio estarrecedor. É por isso que a extrema-direita tem ganhado espaço
por aqui. Está na moda ser conservador e preconceituoso. E se você se
apresentar contra essa tendência, não tenha dúvidas: você também será um
vagabundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário