Aos amigos tudo, aos inimigos, a
lei. Moro se negou a absolver Dona Marisa, mesmo após a sua morte. Não aceitou
o pedido expresso – e bem fundamentado - da defesa, e declarou apenas a “extinção da
punibilidade”. O mesmo juiz, tão rigoroso com seus inimigos, preferiu absolver Cláudia
Cruz, esposa de Eduardo Cunha, que mantinha mais de um milhão de dólares em uma
conta na Suíça. A polêmica decisão gerou desconforto até mesmo na, até agora, harmônica
República de Curitiba. Moro, normalmente idolatrado, foi publicamente ironizado
por um membro da Força-Tarefa da Lava Jato.
O Procurador Carlos Fernando Lima
não falou mais que o óbvio: o nível cultural de Cláudia permitiria que ela
soubesse que os ganhos (legais) de um deputado não comprariam uma vida tão
cara. Carlos, ao afirmar que iria recorrer da decisão, ironizou Sérgio Moro,
dizendo que essa absolvição era fruto de seu “coração generoso”. A frase foi
incisiva. Os autos não permitiriam uma absolvição com tantos indícios que já
foram tornados públicos. Somente possuindo um coração enorme para acreditar que
manter conta em paraísos fiscais e gastos tão exorbitantes (Cláudia chegou a
gastar 17 mil dólares – o equivalente a 55 mil reais – em uma viagem de 2 dias
a Paris) não configuram lavagem de dinheiro ou evasão de divisas.
Mas Moro não é sempre tão
generoso. Como no caso de Marisa, o juiz pode ser frio e impiedoso. A diferença
de tratamento entre Cláudia e Marisa apenas revelou mais uma vez os critérios,
nem sempre equânimes, utilizados pela primeira instância de Curitiba. Benevolente
quando precisa e implacável quando quer. Vaidoso, Moro sempre se embebedou na
ilusão de ser amado e sancionado por todos os brasileiros. Mas, uma crítica
proveniente da própria Operação Lava jato, deixa claro que existe forte reprovação
ao seu senso pessoal de justiça.
O argumento alegado para livrar a
esposa de Cunha da cadeia foi a falta de provas. Não vamos esquecer isso. Em
breve, Moro julgará Lula e algo me diz que seu coração pode não ser tão
generoso. Temos que ficar vigilantes. Em um Estado de Direito ninguém está
acima das leis. Nem mesmo um político, Membro do Ministério Público ou Juiz. Aos
amigos e inimigos exigiremos o mesmo tratamento. E esperamos que as críticas acabem
com a permissão branca de autoritarismo que os tempos pouco democráticos no
Brasil concederam a alguns.
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